terça-feira, maio 13, 2008

COMENTÁRIO DE ENOCH CARNEIRO

Com sua veia de poeta e contador de histórias, o escritor Enoch Carneiro teceu, abaixo, um generoso comentário a este blog:

Prezado Alan.

Li tudo numa empreitada só. Seus textos são bacanas, a prosa é bonita, coerente e perfeita, coisa de professor, de formador de opinião. Chico de Elói sempre me inspirou, "deus véio". Quando você mergulha na filosofia se sai muito bem, porém, o poeta em você grita mais forte e você derrama sua alma. Sua poesia tem uma musicalidade fascinante, tem o seu modo de falar, é como se fosse a alma de todos os poetas escrevendo de uma só vez. Os poetas são imortais, minha poesia não é minha, nem a sua é sua propriedade, pois a parte sombra da gente fala mais alto. Acho ótima a falta de compromissos dos poetas, são todos uns loucos, inclusive você.
Sua filha é sua cara, olhos nariz e boca, a cor predominante não requer nenhum exame de DNA. A genitora, com todo respeito que companheira de poeta necessita, também transpira muita energia, uma verdadeira musa, parabéns por tudo, pelo mote que você canta, um abraço do tamanho do Beco de Braulino.
A Serra Azul precisa ser cantada e você o faz com maestria. Às vezes eu fico pensando como é que uma caneta vulgar escreve uma poesia, de que forma as letras estariam arrumadas dentro dela. A memória dos computadores, sem a manipulação da nossa sensibilidade, não serve para nada. Coisa estranha, a vida é um pulo no escuro, um buraco sem fundo que a gente nunca sabe onde vai chegar.
Desde que por gente me conheço, sempre fui fascinado pela literatura, amante das artes e admirador da inteligência criativa. Nunca gostei de capinar ou cortar de foice ou facão. Quando eu era um garoto, de badogue no pescoço, perambulava pela Rua do Cascalho e pensava que um dia tudo poderia me levar a canto algum. Imaginava um grande vazio reservado aos pobres de Uibaí, um buraco negro. Sempre que conseguia uma página de revista de mulher pelada fazia festa, pois àquela época as revistas eram raras e vendidas no varejo, cada página dobrada valia muito dinheiro; calcinha das companheiras, só se via no varal. Tudo foi mudando, as roupas femininas foram encolhendo tanto, nem sei para que ainda existe revista de mulher pelada. Dia desses, uma vizinha minha de Quixabeira comprou um metro de pano na loja de Zé Biscoito e fez cinco saias, dois corpetes e da sobra do tecido fez um coador e uma capanga grande para o namorado. Os tempos mudaram meu poeta. Vi meu povo crescer e invadir as faculdades, vi nascer das entranhas do Cascalho, professores, médicos, engenheiros e poetas. O tempo foi fermentando tudo: garotas de doze anos exibem seios formados, andam que nem pintos de granjas, são os suplementos alimentares. Os velhos aposentados renasceram. O mundo que me parecia vazio foi tomando forma, já não sinto um buraco negro em minha frente, não compro mais revistas comprometedoras de forma clandestina. A droga mudou de endereço, descobrimos juntos que nada existe que não possa ser revelado. Nós mudamos e o mundo mudou, precisamos ensinar aos outros, aos retardatários, a todos que não acreditaram nos próprios sonhos, que existe o caminho das pedras, o pulo lateral que transporta um nordestino da Rua Grande para a UNB, ou para qualquer faculdade, o caminho do sucesso sem mácula. Estamos hoje no meio dos vencedores, somos a elite transparente que pode contar sua própria trajetória. Parabéns mais uma vez e desculpe-me pelo texto apressado, escrevi-o com o coração de poeta. Se faltar pontuação fique à vontade, encha um litro de pontos e vírgulas e espalhe à vontade, meu intuito foi elogiar o seu talento, sua capacidade de se comunicar, o texto foi feito para você, não foi escrito para nenhuma dissertação de mestrado. Se misturei prosa e poesia, me desculpe, foi a forma de dizer que é assim que eu entendo você. Feliz o homem que não entende uma pedra como um obstáculo, o nosso inconformismo hoje nos permite cantar a nossa Serra Azul.

Grande abraço do leitor.
Enoch Carneiro.

Um comentário:

RECADO PARA ENOCK CARNEIRO disse...

QUERO INFORMAR A ENOCK CARNEIRO QUE POSSUO ALGUMAS DE SUAS POESIAS INÉDITAS DOS ANOS 80, DOADAS À MIM POR JOÃO BORGES QUE SUMIU DA MINHA COMUNICAÇÃO.GOSTARIA QUE ENOCK, TENDO COMUNICAÇÃO COM JOÃO BORGES DE XIQUE-XIQUE-BA PEDISSE QUE ESTE SE COMUNICASSE COMIGO POR EMAIL.MEUS EMAILS:
fabianmendes@oi.com.br e mendes.fabian@gmail.com
Obrigado.

AS POESIAS ESTÃO COM A CALIGRAFIA DE ENOCK. POSSO DEVOLVÊ-LAS SE HÁ INTERESSE.