sexta-feira, julho 14, 2006

FORA DA TEIA


FORA DA TEIA

Esta é a nossa resposta aos ideais: exercitar a existência fora da trama dos conceitos, fora das narrativas niveladoras, armadas para apagar as singularidades, senão o tempo todo, pelo menos em momentos cruciais. Procuramos deixar a força desterritorializada dos desejos furar as teias da normalidade, rasgando o manto de ilusão que acoberta ou sufoca as diferenças e as incertezas.

Somos a força que luta para desgarrar o rebanho. Amamos as ovelhas negras, os malditos, os odiados, os gauches, pois sabemos que algumas vantagens eles têm com relação à massa domesticada: burlam uma ou outra regra; quase sempre se negam a engrossar o coro dos satisfeitos e não embarcam facilmente em delírios coletivos, produzidos pelas máquinas publicitárias do poder.

Pois bem, voltem e releiam com calma o que escrevemos, reflitam com cuidado. O que estamos dizendo é muito grave. Estamos sugerindo que o grande problema é a crença incondicional na linguagem. É a devoção cega aos efeitos de identidade e permanência que ela instaura no real, deixando-o cada vez mais distante.

A linguagem é a nossa Matrix, guardadas as proporções, ela é a nossa Caverna de Platão, e tudo o que fazemos é mergulhar cada vez mais nas sombras das paredes, mantendo-nos de costa para o caos, para as contingências do mundo real.

alan oliveira machado

quarta-feira, julho 12, 2006

MENDIGOS

Hoje, na saída do supermercado, estava lá prostrada na porta do estabelecimento, uma senhora com toda aquela semiótica de pedinte: olhos baixos e sem brilho, boca descaída, corpo curvado. Dei uma esmola, mas não tive muita necessidade de acreditar na encenação. Afinal, no Brasil, a desgraça é a coisa mais fácil de ser imitada, haja vista a profusão de exemplos reais. Depois, para quem leu com certo apuro o Anti-Cristo, de Nietzsche, mesmo que a cena fosse real a comoção se daria de outro modo. Nietzschianos não dão esmolas, lutam pela vida, mediante a afirmação da vontade de potência.
O que me pergunto é se realmente a esmola que as pessoas costumam dar para pedintes em portas de supermercados é para o suposto desvalido que ali se encontra ou para si mesmas... Para seus espíritos cheio de culpas, carentes, mendigos de gente. A pergunta complexa é exatamente esta: a quem se quer salvar com uma esmola? A si mesmo ou ao necessitado?
Há braços! alan