quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O OLHAR QUE INCOMODA

Por que atualmente grande parte do pessoal que ocupa a posição de esquerda em Uibaí foge do debate? Não é difícil responder essa pergunta: por insuficiência disciplinar! Se é por uma questão de disciplina temos aí dois problemas: ou a ação desse pessoal, que deveria ser disciplinada, é reflexo da medíocre formação teórico-ideológica que permite a qualquer debate esfacelar suas bases e desmoralizar seus líderes, uma vez que sua conduta redunda em contradições grosseiras entre comportamento e ideologia; ou a própria prática cotidiana desse pessoal se direciona a interesses sabidamente contraditórios que estrategicamente precisam ficar distantes da qualquer discussão para não despedaçarem o manto ideológico que sustenta a aparência de normalidade. Em suma, ou eles ignoram a incoerência ou, conscientes dela, procuram disfarçá-la. Evitar o debate pode ser uma ação estratégica: o olhar do outro certamente exerce algum controle sobre nós, o crivo do olhar induz à disciplina, portanto, um olhar competente lançado sobre o comportamento de um grupo incoerente, ao passo que exporá suas contradições, incomodamente forçará ocontrole de sua prática. O olhar só incomoda quem alimenta demasiadas ilusões sobre si mesmo, ou quem sabe que o que esconde pode ser mais desprezível do que o que mostra; quem sente que corre o risco de haver em si mesmo muito mais o que esconde do que o que mostra. A exposição desconfortável ao olhar perscrutador possivelmente provocará, num plano público, reações hostis. É provável que o grupo focado procurará desqualificar e desautorizar a fonte do olhar, no afã de se proteger. Se o olhar expôs o comportamento atípico desse segmento é natural que ele(o segmento) evite esse olhar, fuja dele o mais que puder. Se num primeiro momento é natural que se fuja ou evite o olhar que nos desnuda, por outro lado é pouco educativo cobrir os equívocos da nossa prática com o véu imaginário da indiferença. A única forma franca de neutralizar o olhar disciplinador seria aceitá-lo abertamente como instrumento para a nossa auto-regulação. Aceitar a forma franca de atenuar a força normalizadora do olhar exige habilidade política, capacidade de entender as forças que estão em jogo.
HÁ BRAÇOS: alan oliveira machado

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