quarta-feira, outubro 26, 2011

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, DO TRIPÉ AO TRONCO



                                                                   Prof. Alan Oliveira Machado

Como elaborar um conceito de extensão que fuja das práticas tradicionais e resistentes que ainda hoje dominam as discussões e emperram a materialização de uma política extensionista plena na universidade? Para responder a esse questionamento precisamos situar as duas práticas tradicionais.
Primeiramente, não é raro encontrar no ambiente acadêmico a ideia de que a extensão é um trabalho assistencialista que busca socorrer nichos sociais afetados pela exclusão e pela pobreza. Em conformidade com esse entendimento, naturalizou-se, em certos espaços da academia, quando diante de alguma demanda social dessa natureza, encaminhá-la para a Pró-Reitoria de Extensão resolver. A compreensão da extensão como assistência, do modo como apontamos acima, é equivocada. O imediatismo da remissão de tais problemas para a extensão implica certa ausência do tato científico com o qual a universidade precisa tocar tudo que a constitui e que a rodeia.
No afã de dar respostas a essa falta de tato científico de alguns setores da academia, há quem norteie a discussão sobre extensão dividindo o fazer acadêmico em três partes ordenadas da seguinte maneira: ensino, pesquisa e extensão, para em seguida sustentar que tais partes são indissociáveis. A questão é: se são indissociáveis por que dissociá-las antes de dizer que são indissociáveis? O que há de impropriedade em falar de tripé, em idealizar três coisas é que a universidade acaba tendendo a pensá-las sempre de forma separada para só depois procurar conexões com as demais partes. E quando chega a tais conexões muitas vezes enfrenta resistências internas tanto por parte das áreas de pesquisa quanto das de ensino.
Quando se pensa pelo viés do tripé, invariavelmente elabora-se uma falsa segmentação de algo que em sua natureza não é segmentado. O sentido do fazer acadêmico, seu núcleo existencial é a pesquisa. Desde a antiguidade, as instituições, se assim podemos dizer, que mais se aproximaram do que hoje denominamos como universidade se pautaram pela investigação da realidade, da matéria com o fim de torná-la cognoscível, manipulável e aplicável. Esse modus operandi sofisticou-se e diversificou-se na modernidade ganhando perenidade sob a alcunha de pesquisa científica.
Não existe de fato universidade onde não há produção de pesquisa. E o certo mesmo é pensar que a academia só produz pesquisa. Antes de provocar qualquer desconforto a esse respeito com afirmações tão diretas é importante dizer que ensino e extensão são estágios da produção de conhecimento. Se há instituições de ensino superior que se concentram apenas no ensino e na extensão, não custa nada perguntar sobre a qualidade de tal ensino e tal extensão quando se compreende que ambos são desdobramentos de uma única prática: a pesquisa.
No princípio, a pesquisa busca cercar o objeto, inquiri-lo, conhecê-lo e constatar suas possibilidades. Após essa primeira fase, ou no decorrer dela, a pesquisa ganha status de conhecimento e já pode ser situada num estágio cuja função principal é a sua disseminação. Nesse estágio, ela vira ensino, ocupa as salas de aula, por meio do exercício docente/discente, e concomitantemente alcança seu último estágio que se efetiva predominantemente fora dos muros da academia: a extensão.
Não sem razão qualquer um poderá apontar como linear demais a sequência acima: pesquisa, ensino e extensão. Antes que isso aconteça convém afirmar que não existe projeto de pesquisa, mesmo da mais pura pesquisa, sem finalidade e sem objetivos. Se há finalidade e objetivos é porque é inerente ao ato de pesquisar as preocupações com a produção de algum conhecimento, a divulgação dele e sua conversão em desenvolvimento tecnológico, social e econômico. Se isso é inseparável da natureza da pesquisa, as práticas que segmentam o fazer acadêmico em pesquisa, ensino e extensão não podem fazê-lo sem um grande cuidado. Negligenciar qualquer um desses estágios da pesquisa, promover o desequilíbrio entre eles enfraquece a universidade, porque em suma fragiliza a prática da pesquisa. 
Tendo em vista o que foi discutido até o momento, não custa concluir que no lugar da analogia do tripé, encontramos mais pertinência ao empregar a ideia do tronco. O grande tronco que sustenta a árvore do conhecimento e do desenvolvimento humano chamada Academia é a pesquisa. Como todo tronco, a pesquisa tem seu cerne, seu "mesocarpo" e sua casca, ou seja, desdobra-se naturalmente em três fases inerentes: a relação solitária do pesquisador com o objeto, o ensino e a extensão. E toda essa estrutura do fazer acadêmico indiscutivelmente sustenta-se no solo e no emaranhado de raízes que constituem a sociedade, com seus acúmulos históricos e suas demandas presentes. 

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