terça-feira, março 22, 2011

O FANTÁSTICO PAÍS DAS MARAVILHAS


Lewis Carroll criou o País da Maravilhas por onde fez andar a menininha do mundo cartesiano, cheio de ordem simbólica, Alice. É lendo um livro que ela aparece nas primeiras páginas de Carroll, antes de ser lançada à desordem do País das Maravilhas. Alice é do mundo livresco, da cultura, da ordem estabelecida por acordo prévio, do mundo da linguagem, melhor, do torpor de verossimilhança que a língua cria ao nosso redor e em nosso interior.
A sensação de segurança e de convicção que o mundo de Alice (mundo nosso também) oferece por meio de uma operação de esquecimento do acordo prévio, da montagem lógica que apaga o caos e instaura uma realidade de linearidade plena são destroçados à medida que Alice mergulha no subterrâneo País das Maravilhas. Em Alice in wonderland, Lewis Carroll arrebenta a representação, a linearidade lógica do  nosso mundo. Carroll enfrenta Charles Dogson e quem foi Dogson? Um doutor em lógica, um professor de matemática da prestigiada universidade de Oxford. Charles Dogson é Alice e Alice é quem? A pronúncia em inglês do seu nome dá a pista: /éli ci/  sonoridade homófona da combinação do som de duas letras em inglês  "L" e "C" = /éli/ e /ci/ . Quem não diria que "L" e "C" são também as iniciais de Lewis Carroll?
O fato primo mobilis que desencadeia toda a ação na história de Alice no País das Maravilhas acontece quando um coelho branco passa correndo  pela menina Alice e falando que está atrasado, de olho em um relógio que retirou do bolso do colete. Eis aí a grande invenção, o pai de todas outras ilusões humanas: o Tempo! O relógio estabelece o Tempo como uma realidade, mesmo não existindo Tempo, mesmo o Tempo sendo a maior de todas as invenções, o maior de todos os contratos humanos. A crença na existência do tempo encobre a desordem, o caos  e propicia a pavimentação de um caminho linear para a existência. O tempo foi instituído como um alicerce sobre o qual edificamos o nosso mundo de ordem. O coelho de Lewis Carroll está atrasado, está fora do tempo, fora da ordem e será ele quem conduzirá Alice para o mundo sem Tempo do País das Maravilhas. Não tendo o Tempo como suporte, necessariamente a realidade desse mundo subterrâneo não será compatível com a nossa. 
A gente sabe que o País das Maravilhas não representa a realidade fora da ordem da linguagem, representa a linguagem fora ordem da representação estabelecida. É a violação da base de sentido dos significantes que torna estranho o mundo no qual Alice se enfiou. É a linguagem que é questionada  e como somos seres visceralmente de linguagem, ficamos encabulados com o Chapeleiro Maluco, aquele que diz: ver o que se come não é o mesmo que comer o que se vê ; com Humpt Dumpt, com a Rainha de Copas e tudo mais que corrói o cimento que solda os sentidos nas palavras de tal forma que esquecemos ser tudo uma mera invenção, uma maravilhosa farsa. Há braços! alan

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