domingo, junho 29, 2008

SER HOMEM É SER SÓ

"Era uma das quase duzentas mil pessoas presentes. Aconteceu então que, imediatamente, perdi qualquer sentimento de minha própria identidade. Ali, tornei-me também multidão. Esqueci a minha cara, senti a volúpia de ser “ninguém”. Se, de repente, o povo começasse a virar cambalhotas, e a equilibrar laranjas, e a ventar fogo, eu faria exatamente como os demais. E, então, senti que a multidão não só é desumana, como desumaniza". Nelson Rodrigues em: Óbvio Ululante.
Lembrando o velho Nelson Rodrigues, só há duas saídas para nós: ou se é homem, ou se é massa. Ser homem implica necessariamente ser só. A solidão está para o homem, assim como a desumanização e as paixões exacerbadas estão para a massa. Prefiro ser só a seguir rebanho. Escolho ser homem! Até porque não há nada de errado na solidão. No fundo, o homem na sua solidão é quem desvia a massa do abismo. Ela, a solidão, é a mais genuina condição humana. E, de súbito, esse sentimento intrínseco a tudo que é singular acontece quando a gente se dá conta de que não precisa balir como os outros, quando aprendemos a ouvir a nossa voz, o nosso desejo mais íntimo e pessoal. Quando perdemos o medo do olhar externo que aponta para a repetição, para a imitação servil... Esse olhar externo com essas características é que nos desumaniza na medida em que se propõe a nos roubar a singularidade, as idiosincrasias, oferecendo-nos como feliz alternativa o comportamento de massa, pasteurizado, midiatizado e dócil a qualquer controle ou incitação. Quando se aceita a solidão como parte constitutiva da condição humana, opera-se a desarticulação de toda uma teia de culpa forjada para nos reduzir a pobres autômatos. Não esperemos bondes, sejamos os solitários e solidários bondes de nós mesmos. Há braços! alan

Um comentário:

alhures disse...

Belo e terrível, meu velho...
E dói quando se constata o que afirmou no teu texto.

Um abraço.

Oz