sexta-feira, abril 11, 2008

DE COMO FINGIR SER O QUE SE É

alan oliveira machado, 2005

Puxar conversa é apenas o que faço. Nem sei se teria autoridade para fazer mais que isso. Tendo ou não, puxo conversa e pronto. E isso às vezes é suficiente para agradar ou irritar. E isso basta para tocar narcisismos: uns sorriem satisfeitos, outros ralham enfezados. E eu fico a pensar em até que ponto eles têm consciência de que o mundo é muito mais schopenhaueriano do que se imagina. De que tudo isso então não passa de representação, de que há uma vontade que nos irmana e um princípio de razão suficiente que nos joga no gládio teatral das representações. O velho Schopenhauer está certo: o mundo é vontade e representação. Não devemos ser atores de um único personagem. Essa é a base do meu irracionalismo lógico (com oxímoro e tudo) já cheio de rótulos, como naquela canção de Raul Seixas, porque nesse mundo tudo tem que ser selado, carimbado, rotulado... aí sobram adjetivos para mim: o louco, o nietzschiano, o pós-moderno radical, o antifreudiano convicto, o triturador semiótico, o professor responsável, o superpai, o amigo corrosivo, e por aí vai...

O viés de consciência que atravessa meu pathos, desfigurado ou configurado pelas faces que me dão e pelas que me dou é o que poucos conseguem apreender: tem vezes que é necessário rasgar as fantasias porque é mais importante saber quem é o ator. Alimentar a doce ilusão de ir à coisa-em-si, de saltar para fora da causalidade nos faz destruir mundos e criar outros mais, mesmo sabendo que, como numa cebola, por trás de uma casca há outra e mais outra, e assim sucessivamente até a vontade cega tocar o vazio final.

Posso até aceitar o rótulo de triturador semiótico, levando em conta aquela conclusão de Heideger de que o homem é linguagem. Sou então um processador de linguagem? Um desmistificador de representações? Um caçador de semioses? Tudo isso é também representação? Qual o problema se for? Não estou condenando a linguagem, a única arma que nos torna mais fascinantes do que os outros animais (talvez piores também), uso-a nesse caso como uma espécie de exercício semiótico para triturar construções excessivamente fantasiosas e nefastas, hábitos estúpidos, práticas engessadas e tutti quanti e nem sei se consigo. Ora, aí vão dizer que tudo isso é somente construção narcísica minha, que é parolagem teórica, representação ou coisa que o valha, mas se for que problema há? Se não for será diferente? Com sacana sinceridade, quem não sabe que está diante de um problema corriqueiro de weltanschauung?

Um comentário:

Anônimo disse...

De capim e razão e sal, o teu berço, meu velho. A tocha que carregas iluminará a trilha que buscas desvendar. Como disse o Kafka : no teu sobrenome carregas o instrumento para partir os mares gelados da alma humana..

Oz