SOBRE LEITURA E BIBLIOTECAS
Prof. Alan
Oliveira Machado
Entre
outras coisas, o ser humano desenvolveu a escrita porque um dia teve
necessidade de preservar sua memória, de forma que pudesse consultá-la a
qualquer momento. Isso permitiu a ele transmitir suas experiências e
conhecimentos às gerações posteriores. A partir do momento em que começou a
acumular conhecimento e a utilizar esse saber acumulado, a humanidade tornou-se
dominante no planeta e toda a sofisticação tecnológica de que dispomos hoje é
fruto do uso crítico desse conhecimento guardado.
Atualmente, há várias formas de armazenar o
conhecimento: livros, CDs, fitas, softwares, pen drives, chips etc. Todas essas
modalidades de suportes, de certo modo, podem ser encontradas em bibliotecas.
Dentre elas, sabemos que o livro é a mais tradicional forma de preservar o
conhecimento. Embora o livro seja a forma que concentra maior simbologia, todos
os outros recursos trazem um ponto em comum com o livro: eles são materiais de
leitura, repositórios de linguagem. A linguagem e a leitura então são os
elementos mais importantes de todo esse processo. Nenhum desses instrumentos
faz sentido sem linguagem e leitura. Afinal eles não são apenas depósitos de
informação e sabedoria, são instrumentos que devem ser utilizados num processo
de interlocução que vise dar condições ao usuário de interagir com o mundo de
forma a transformá-lo, a protegê-lo, a torná-lo melhor.
A
biblioteca então é esse espaço sagrado que permite ao ser humano o acesso a sua
história, a sua linguagem, a seu fazer e a seu saber. O acesso a esse universo
é fundamental para a compreensão do próprio homem e do meio em que vive. Assim,
ler é um exercício de descoberta do mundo. Por meio da leitura o ser humano se
desentorpece, abre-se para o mundo e passa a vê-lo de forma mais sensível, mais
crítica. A partir da leitura, ele pode avaliar melhor suas ações cotidianas e a
si mesmo, já que, em grande medida, é constituído pela linguagem, por aquilo
que lê. Isso quer dizer que, em certo grau, deixamos de ser aquilo que não
lemos.
No
mundo atual, onde predominam a informação rápida e a alta tecnologia, é
inconcebível ainda haver pessoas que não consigam se situar no universo da
linguagem, que não saibam ler ou que não gostem de ler. Essas pessoas, à medida
que estão afastadas da leitura, do conhecimento, tornam-se reféns do meio
social e reagem inconscientemente a essa condição de forma equivocada, às
cegas, provocando situações que ajudam a atrapalhar o bom desenvolvimento da
sociedade como um todo. Inaptas para fazer uma leitura de mundo, crítica e
eficaz, elas seguem como bois dependentes das rédeas, a maioria das vezes
opressivas, do meio em que vivem.
Paulo
Freire nos ensina que "a leitura de mundo precede a leitura da
palavra" e aqui precisamos acrescentar que a leitura da palavra atualiza a
leitura de mundo, tornando-a critica e renovadora. Ler, portanto, é um gesto
revolucionário que garante ao leitor o acesso ao plural mundo da linguagem, à
diversidade da realidade e por isso mesmo amplia as possibilidades de escolha
do leitor, sua liberdade de decisão, enfim, sua cidadania.
A
biblioteca deveria ser um bem fundamental, imprescindível em municípios,
cidades, escolas, casas de família, clubes etc. O conhecimento nos humaniza. Em
consequência disso, nos autodenominamos homo
sapiens, ou seja, o homem do saber. Essa consciência básica, do que somos e
de quem somos, nos leva a inferir que onde não há bibliotecas há desigualdades,
há processos de desumanização, há pouco desenvolvimento, pouco senso crítico,
pouca sensibilidade estética etc. E a superação desses problemas é inseparável
do acesso aos livros e demais suportes de linguagem e de conhecimento.
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