sexta-feira, agosto 03, 2012


SOBRE LEITURA E BIBLIOTECAS

                                    Prof. Alan Oliveira Machado

Entre outras coisas, o ser humano desenvolveu a escrita porque um dia teve necessidade de preservar sua memória, de forma que pudesse consultá-la a qualquer momento. Isso permitiu a ele transmitir suas experiências e conhecimentos às gerações posteriores. A partir do momento em que começou a acumular conhecimento e a utilizar esse saber acumulado, a humanidade tornou-se dominante no planeta e toda a sofisticação tecnológica de que dispomos hoje é fruto do uso crítico desse conhecimento guardado.
 Atualmente, há várias formas de armazenar o conhecimento: livros, CDs, fitas, softwares, pen drives, chips etc. Todas essas modalidades de suportes, de certo modo, podem ser encontradas em bibliotecas. Dentre elas, sabemos que o livro é a mais tradicional forma de preservar o conhecimento. Embora o livro seja a forma que concentra maior simbologia, todos os outros recursos trazem um ponto em comum com o livro: eles são materiais de leitura, repositórios de linguagem. A linguagem e a leitura então são os elementos mais importantes de todo esse processo. Nenhum desses instrumentos faz sentido sem linguagem e leitura. Afinal eles não são apenas depósitos de informação e sabedoria, são instrumentos que devem ser utilizados num processo de interlocução que vise dar condições ao usuário de interagir com o mundo de forma a transformá-lo, a protegê-lo, a torná-lo melhor.
A biblioteca então é esse espaço sagrado que permite ao ser humano o acesso a sua história, a sua linguagem, a seu fazer e a seu saber. O acesso a esse universo é fundamental para a compreensão do próprio homem e do meio em que vive. Assim, ler é um exercício de descoberta do mundo. Por meio da leitura o ser humano se desentorpece, abre-se para o mundo e passa a vê-lo de forma mais sensível, mais crítica. A partir da leitura, ele pode avaliar melhor suas ações cotidianas e a si mesmo, já que, em grande medida, é constituído pela linguagem, por aquilo que lê. Isso quer dizer que, em certo grau, deixamos de ser aquilo que não lemos.
No mundo atual, onde predominam a informação rápida e a alta tecnologia, é inconcebível ainda haver pessoas que não consigam se situar no universo da linguagem, que não saibam ler ou que não gostem de ler. Essas pessoas, à medida que estão afastadas da leitura, do conhecimento, tornam-se reféns do meio social e reagem inconscientemente a essa condição de forma equivocada, às cegas, provocando situações que ajudam a atrapalhar o bom desenvolvimento da sociedade como um todo. Inaptas para fazer uma leitura de mundo, crítica e eficaz, elas seguem como bois dependentes das rédeas, a maioria das vezes opressivas, do meio em que vivem.
Paulo Freire nos ensina que "a leitura de mundo precede a leitura da palavra" e aqui precisamos acrescentar que a leitura da palavra atualiza a leitura de mundo, tornando-a critica e renovadora. Ler, portanto, é um gesto revolucionário que garante ao leitor o acesso ao plural mundo da linguagem, à diversidade da realidade e por isso mesmo amplia as possibilidades de escolha do leitor, sua liberdade de decisão, enfim, sua cidadania.
A biblioteca deveria ser um bem fundamental, imprescindível em municípios, cidades, escolas, casas de família, clubes etc. O conhecimento nos humaniza. Em consequência disso, nos autodenominamos homo sapiens, ou seja, o homem do saber. Essa consciência básica, do que somos e de quem somos, nos leva a inferir que onde não há bibliotecas há desigualdades, há processos de desumanização, há pouco desenvolvimento, pouco senso crítico, pouca sensibilidade estética etc. E a superação desses problemas é inseparável do acesso aos livros e demais suportes de linguagem e de conhecimento.

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