Prof. Alan Oliveira Machado
Tenho acompanhado as discussões sobre
educação e novas tecnologias com certo ceticismo. A impressão que fica quase
sempre é a de que as perguntas feitas a esse respeito estão mal formuladas ou
fora do lugar. Quando alguém pergunta, por exemplo, como as tecnologias afetam
a educação não faz uma má pergunta embora, no caso, o termo afetar esteja vago. O melhor a fazer
seria especificá-lo, de modo a direcionar o questionamento à demanda que
precise de respostas emergenciais. Mas quando perguntam se os tablets substituirão
o professor fico pensando em até que ponto a retórica não continua sendo a
tônica da discussão. Não é difícil imaginar que tablets não são professores.
Que são apenas plataformas para aplicativos que buscam e armazenam conteúdos
permitindo, a quem souber usar, um grau de interatividade mais diversificado do
que um livro, não necessariamente do que uma boa aula. Que a tecnologia
acelerou o acesso e o modo de acesso a conteúdos não podemos duvidar, mas as
incertezas são abundantes quanto à assimilação ou à qualidade da interação com
esses conteúdos disponibilizados de modo tão fácil e farto.
Até então, o que a tecnologia muda é o
modo de acesso não propriamente o resultado do acesso aos conteúdos. Ela reduz
espaço e tempo, tornando disponível, de forma rápida, a teia de convergências e
de divergências necessária para se verticalizar a compreensão do conteúdo. O
que em outros tempos demandava meses para ser feito, em termos de pesquisa de
conteúdos, faz-se em um dia com custo mínimo. Essa, por enquanto, é a maior
virtude dos recursos tecnológicos aplicados à educação. Mesmo assim, isso não
quer dizer que todos conseguem lidar de forma pertinente e produtiva com a
quantidade imensa de dados e informações que podem receber em uma busca
instantânea no banco de dados de um tablet ou netbook conectados na rede. Desse
modo, o percurso da aprendizagem ainda precisa do fio de objetividade estendido
por um bom mestre.
Há quem evoque uma entidade supostamente
criada pela era tecnológica, muito na moda hoje em dia, chamada inteligência coletiva e colaborativa como a força motriz de um
modo novo de aprender. No entanto eu pergunto: a inteligência que sempre serviu
à educação não é coletiva e colaborativa? De onde um professor tira o conteúdo
de suas aulas? Posso inferir que tal apego ao conceito de inteligência em
questão tenha a função de questionar aquele depreciado papel do professor como
o único detentor do saber. Tudo bem, mas, em tese, qual saber o professor
encarna? Não seria o coletivo? Ora, se é coletivo não é único. É óbvio que não
podemos negligenciar a forma veloz, densa e concentrada que as redes online
conseguem imprimir ao conhecimento organizado de forma coletiva e colaborativa, na verdade existente
como prática desde que o homem inventou o signo. Mas é necessário entender
também que o modo equivocado como certos professores tratam o conteúdo não
impedirá que ele (o conteúdo) continue a existir e não eliminará sua natureza
coletiva e colaborativa.
Bons professores e maus professores
sempre existiram e o giz, o livro didático, o data-show, ou o tablet não vão
necessariamente mudar isso. O livro didático, por exemplo, surgiu como uma
ferramenta, um roteiro de apoio para o professor. Os bons professores nunca
deixaram de tratá-lo como tal, como apenas mais um objeto acessório a seu
serviço. O que fizeram os maus professores? Transformaram o livro didático em
uma entidade regente. O referido livro que era para ser coisa do professor,
pelo modo como foi tratado, transformou o professor em sua coisa. Para muitos
que o usam de forma submissa, tal material, que servia de roteiro, desde sempre
serve como fonte única de conteúdo. A autoridade da sala de aula desses
docentes passou a ser o livro didático com sua natural superficialidade. O
mesmo pode acontecer com qualquer suporte tecnológico e o efeito disso vem
explícito nos resultados catastróficos da educação.
Resta dizer que não é benéfico discutir a
influência das novas tecnologias na educação tendo como base mistificações a
priori. É preciso antes testar tais tecnologias, ter clareza dos seus limites e
das funções que podem desempenhar no processo educacional. Do contrário, o
prejuízo com a educação pode ser maior do que o imaginado e os resultados
pífios como sempre.