quinta-feira, abril 18, 2013

VELHAS FORMAS DE APRENDER E ENSINAR



                                              Prof. Alan Oliveira Machado

Tenho acompanhado as discussões sobre educação e novas tecnologias com certo ceticismo. A impressão que fica quase sempre é a de que as perguntas feitas a esse respeito estão mal formuladas ou fora do lugar. Quando alguém pergunta, por exemplo, como as tecnologias afetam a educação não faz uma má pergunta embora, no caso, o termo afetar esteja vago. O melhor a fazer seria especificá-lo, de modo a direcionar o questionamento à demanda que precise de respostas emergenciais. Mas quando perguntam se os tablets substituirão o professor fico pensando em até que ponto a retórica não continua sendo a tônica da discussão. Não é difícil imaginar que tablets não são professores. Que são apenas plataformas para aplicativos que buscam e armazenam conteúdos permitindo, a quem souber usar, um grau de interatividade mais diversificado do que um livro, não necessariamente do que uma boa aula. Que a tecnologia acelerou o acesso e o modo de acesso a conteúdos não podemos duvidar, mas as incertezas são abundantes quanto à assimilação ou à qualidade da interação com esses conteúdos disponibilizados de modo tão fácil e farto.
Até então, o que a tecnologia muda é o modo de acesso não propriamente o resultado do acesso aos conteúdos. Ela reduz espaço e tempo, tornando disponível, de forma rápida, a teia de convergências e de divergências necessária para se verticalizar a compreensão do conteúdo. O que em outros tempos demandava meses para ser feito, em termos de pesquisa de conteúdos, faz-se em um dia com custo mínimo. Essa, por enquanto, é a maior virtude dos recursos tecnológicos aplicados à educação. Mesmo assim, isso não quer dizer que todos conseguem lidar de forma pertinente e produtiva com a quantidade imensa de dados e informações que podem receber em uma busca instantânea no banco de dados de um tablet ou netbook conectados na rede. Desse modo, o percurso da aprendizagem ainda precisa do fio de objetividade estendido por um bom mestre.
Há quem evoque uma entidade supostamente criada pela era tecnológica, muito na moda hoje em dia, chamada inteligência coletiva e colaborativa como a força motriz de um modo novo de aprender. No entanto eu pergunto: a inteligência que sempre serviu à educação não é coletiva e colaborativa? De onde um professor tira o conteúdo de suas aulas? Posso inferir que tal apego ao conceito de inteligência em questão tenha a função de questionar aquele depreciado papel do professor como o único detentor do saber. Tudo bem, mas, em tese, qual saber o professor encarna? Não seria o coletivo? Ora, se é coletivo não é único. É óbvio que não podemos negligenciar a forma veloz, densa e concentrada que as redes online conseguem imprimir ao conhecimento organizado de forma  coletiva e colaborativa, na verdade existente como prática desde que o homem inventou o signo. Mas é necessário entender também que o modo equivocado como certos professores tratam o conteúdo não impedirá que ele (o conteúdo) continue a existir e não eliminará sua natureza coletiva e colaborativa.
Bons professores e maus professores sempre existiram e o giz, o livro didático, o data-show, ou o tablet não vão necessariamente mudar isso. O livro didático, por exemplo, surgiu como uma ferramenta, um roteiro de apoio para o professor. Os bons professores nunca deixaram de tratá-lo como tal, como apenas mais um objeto acessório a seu serviço. O que fizeram os maus professores? Transformaram o livro didático em uma entidade regente. O referido livro que era para ser coisa do professor, pelo modo como foi tratado, transformou o professor em sua coisa. Para muitos que o usam de forma submissa, tal material, que servia de roteiro, desde sempre serve como fonte única de conteúdo. A autoridade da sala de aula desses docentes passou a ser o livro didático com sua natural superficialidade. O mesmo pode acontecer com qualquer suporte tecnológico e o efeito disso vem explícito nos resultados catastróficos da educação.
 Resta dizer que não é benéfico discutir a influência das novas tecnologias na educação tendo como base mistificações a priori. É preciso antes testar tais tecnologias, ter clareza dos seus limites e das funções que podem desempenhar no processo educacional. Do contrário, o prejuízo com a educação pode ser maior do que o imaginado e os resultados pífios como sempre.